Artigo publicado pela jornalista Nivia Gouveia no Jornal Extra de Caruaru, sobre o fim da obrigatoriedade do nosso diploma.
Jornalismo, badalação e outras pseudomodernidades
Nívia Gouveia*
Recentemente tive a oportunidade de ler um jornalzinho vindo do interior do Estado. Tal jornal claramente não havia sido escrito por nenhum jornalista e, quando eu falo de jornalista, refiro-me às pessoas que cursaram Jornalismo e possuem diploma superior conferindo poderes de exercer a profissão. Era uma eterna coluna social com textos fracos, muitas fotos e cunho meramente político.
Não criticarei aqui a qualidade do jornal, nem me aprofundarei nos pormenores que fizeram com que o STF diminuísse a importância do diploma de uma profissão que necessita de conhecimento técnico e teórico e carrega consigo enorme responsabilidade. Deter-me-ei apenas a uma palavra que me chamou a atenção na manchete. A palavra é BADALAÇÃO.
O jornal falava de um casamento que fora o evento “mais badalado do ano”, e usou a gíria como novidade. É como se o editor tivesse dito “vamos redigir uma manchete moderna” ou, como falam os jornalistas “escreve uma coisa fashion aí”! Muita gente acha que a gíria é recente, coisa de uns dez anos pra cá, mas não conhece a sua origem.
Na verdade, a gíria badalação é bem antiga. Remonta do tempo de nossas bisavós, quando a sociedade celebrava tudo na Igreja. Gente que nascia ou morria, gente que viajava ou voltava, gente que fazia aniversário, tudo era motivo para uma missa em ação de graças. Nessas ocasiões sociais, os sinos eram sempre solicitados.
O que poucos sabem é que isso tinha um preço. Pagava-se para repicar sinos. Quem tinha pouco dinheiro, ou prestígio, recebia poucas batidas. As pessoas abastadas, ou mesmo as mais soberbas, pagavam para ter o sino badalado mais vezes. Sendo assim, havia uma silenciosa disputa para saber qual foi o evento mais badalado, o que, naturalmente, indicava quem eram as famílias mais ricas do lugar.
Até hoje, em alguns lugares distantes, ainda se ouve a expressão “mandar bater meia-hora de sino”. Decerto, alguém que pode mandar bater meia-hora de sino é bastante endinheirada. Não é esse o caso dos jornalistas, como eu, que precisam trabalhar muito para ter um padrão de vida razoável.
Se a competição fosse leal, ao menos a situação seria mais justa. Competir com alguém que não precisou estudar nada e cobra quase nada pela sua força de trabalho é perverso. E o pior é que ainda tem quem pense que vida de jornalista é cheia de BADALAÇÃO. Utopia!
* Nívia Gouveia é jornalista, formada pela Unicap, e estudante de Letras da UFPE.
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Olha o que os finos e fofos disseram