sexta-feira, 23 de abril de 2010

Entendendo Alice

Manual básico para quem não leu o livro de Lewis Carroll e não quer ficar voando vendo as cenas dirigidas por Tim Burton 
*Fonte: Site da Revista Galileu



A menina Alice acorda de um pesadelo e pergunta ao pai se ficou maluca. Ele mede sua febre carinhosamente e dá o diagnóstico: sim. “Mas deixe eu te contar um segredo: as melhores pessoas são”. A cena é uma das tantas que recheiam o filme Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, em que o diretor pode colocar para fora seu amor pela excentricidade. O escuro e macabro é o belo, a loucura é a sanidade, não se encaixar é superar os limites da sociedade. E para que você não se perca em toda essa inversão do senso comum que permeia o novo filme da Disney, Galileu preparou um manual das referências que levaram Alice às telas.



Alice é pálida, tem olhos fundos e olheiras escuras, cabelos despenteados, luvas listradas de preto e branco. E, acredite, não é só no visual que ela tem a cara de Burton. Nesta versão, não é mais uma criança, mas uma jovem esquisita de 19 anos que não se encaixa em lugar algum. "Ela não se encaixa no mundo nem na idade que tem. Há uma certa tristeza em Alice, e eu me identifico muito com ela ", já afirmou o diretor. 


A época, os costumes 
Alice está imersa na sociedade vitoriana do Reino Unido. Chama-se Era Vitoriana o período que vai de 1837 a 1901, durante o qual o país foi governado pela Rainha Vitória. A época é marcada por paz, expansão do Império Britânico, desenvolvimento industrial e surgimento de novas invenções. Com os lucros da indústria, uma grande classe média teve a oportunidade de se educar e a Inglaterra deu uma guinada para o liberalismo e ampliação do direito de votar. Apesar disso, a elite dessa sociedade é conhecida por ser extremamente austera, formal e frívola, como você pode perceber nas cenas iniciais do filme. 


Mundo Subterrâneo 
Para criar o visual sombrio do Mundo Subterrâneo, a equipe de Tim Burton se inspirou principalmente em uma fotografia da Segunda Guerra Mundial que mostrava uma família britânica tomando chá do lado de fora de sua casa. “Ao fundo dava para ver as construções de Londres, tudo bastante caótico”, diz o diretor de arte Todd Cherniawsky. “Isso alimentou o arco do Mundo Subterrâneo como um mundo muito contido, deprimido e com uma gama de cores desbotadas”. 

Detalhe: aqui nós estamos falando de Underland e não de Wonderland. A explicação de Burton (que não fica muito explícita no filme) é a de que Alice teria entendido errado quando criança e trocado “under” (subterrâneo) por “wonder” (maravilha).




A rainha de Copas
Em seu livro, Carroll teve o cuidado de relacionar os símbolos das cartas de baralho com sua função na sociedade. As cartas de espadas (que no inglês são “spades”, que significa “pá”) são jardineiros. As de paus, que no inglês é sinônimo de “porrete”, são soldados. As de ouro são membros da corte e as de copas (no inglês “coração”) são as crianças reais. Seguindo essa lógica, a rainha de “coração”, explicou Carroll mais tarde, “é a incorporação da paixão desgovernada”. 



Chapeleiro Maluco
Enquanto Johnny Depp desenvolvia seu personagem, descobriu que os chapeleiros da época normalmente sofriam de envenenamento por mercúrio. A cola que eles usavam para fazer cartolas tinha um alto teor da substância – e o efeito de deixá-los lelés da cuca. Depp achou que todo o corpo do personagem devia estar afetado pelo mercúrio, não só sua mente, e, por essa razão, o Chapeleiro ganhou cabelos cor de laranja. 



Tweedledee e Tweedledum
Os dois gêmeos foram interpretados por um mesmo ator, Matt Lucas. Mas ele não fazia tudo ao mesmo tempo: primeiro interpretava um e depois o outro. Não podia ser diferente já que eles têm personalidades tão distintas. Os irmãos Tweedle foram, na verdade, importados de outra história, “Alice através do Espelho”. E são a imagem invertida um do outro – metáfora de Carroll para uma pessoa se olhando diante do espelho. 


O exército da Rainha Branca 
Uma das cenas mais ricas em referências do filme é a cena da batalha final. Vale reparar em duas coisas: o chão onde a batalha acontece é uma imitação de um tabuleiro de xadrez e o exército da rainha branca luta com armaduras de peças do jogo. A cena é uma alusão ao jogo de xadrez que, no livro, Alice estaria jogando todo o tempo. No livro, você consegue conferir as ilustrações em que Carroll descreve cada ação de Alice no decorrer da história como movimentos de peças do jogo.

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