Há costumes que não conseguimos explicar porque fazemos. Simplesmente seguimos. Peguei dois exemplos no livro que estou lendo atualmente: 1808, de Laurentino Gomes. Ambos são descritos, como o nome do título do livro sugere, no período da permanência da Família Real no Brasil. Mas, se os trouxemos para os dias atuais, não muda nada não.
Sobre o Brasil (página 192):
Outra herança da época de D. João é a prática da "caixinha" nas concorrências e pagamentos dos serviços públicos. O historiador Oliveira Lima, citando os relatos do inglês Luccock, diz que se cobrava uma comissão de 17% sobre todos os pagamentos ou saques no tesouro público. Era uma forma de extorsão velada: se o interessado não comparecesse com os 17%, os processos simplesmente paravam de andar. "A época de D. João estava destinada a ser na história brasileira, pelo que diz respeito à administração, de muita corrupção e peculato", avaliou Oliveira Lima. "A corrupção medrava escandalosa e tanto contribuía para aumentar as despesas, como contribuía o contrabando para diminuir as rendas."
Sobre Londres (páginas 205 e 206):
O poder e a influência da nova potência se faziam sentir em todas as partes do mundo. Com pouco mais de um milhão de habitantes, Londres era a maior cidade do mundo. Suas chaminés lançavam uma nuvem de fuligem que cobria o telhado das casas. Fortunas se multiplicvam graças a invenções revolucionárias, como a locomotiva a vapor. Nesse ambiente criativo e dinâmico, as ideias circulavam livremente, em contraste com o ardor patriótico, porém autoritário, da França Napoleônica, onde os livros e a cultura eram submissos aos caprichos do imperador. No começo do século XIX, havia 278 jornais em Londres. Esse número incluía periódicos ingleses, como o já vulnerável The Times, e também uma infinidade de jornais em língua estrangeira, ali publicados para fugir à censura e à perseguição em seus países de origem, caso do brasileiro Correio Braziliense, de Hipólito da Costa. A cidade era um centro de debates, pesquisas e inovações, que atraía cientistas, pensadores, escritores e poetas. Alguns dos maiores nomes da história da literatura inglesa, como Lord Byron, Percy Shelley e Jane Austen, lá estavam, escrevendo suas obras-primas. Multidões se reuniam para ouvir palestras, exposições e debates em torno de inúmeras sociedades dedicadas à pesquisa de Geografia, Astronomia, Antropologia e Geologia, entre outras áreas da ciência.
As semelhanças, na realidade, são muitas. A grande diferença é que, hoje, o que era um "acordo de cavalheiros" - se é possível chamar assim - para pagamento de propina, hoje está institicionalizado. E com percentuais maiores...
ResponderExcluirBeijo!