domingo, 10 de junho de 2012

Os nordestinos não viajam mais de ônibus, TV Globo



Certa vez, eu estava no metrô de São Paulo e resolvi pedir informação a uma senhora sobre qual estação eu deveria descer para ficar mais próxima do meu destino. Percebendo o meu sotaque carregado de uma legítima pernambucana, após me responder, ela me disse, em tom de lamentação: “É, vocês nordestinos vêm para cá porque lá na terra de vocês não tem trabalho...”. 

Prontamente, respondi: “Não, eu vim para cá assistir um megashow internacional, cujo ingresso custou meio salário mínimo, estou hospedada em um hotel e fiquei mais dois dias para fazer compras e passear. Eu não preciso arrumar emprego em São Paulo. Estou aqui gastando dinheiro, que ganhei trabalhando na minha terra.”

O fora que dei na criatura paulistana pode ter sido exagerado, mas mostra a força econômica que o Nordeste tem. Somos a região que mais cresce no País e meu Estado, Pernambuco, tem crescimento comparável à China. Nada mais normal que seus moradores tenham condições de conquistar um bom emprego e, dessa forma, de dar ao luxo de gastar uma pequena fortuna (ainda para muitos pais de família) só para ver uma banda tocar ao vivo.

E foi justamente aí que João Emanuel Carneiro errou feio. O autor da novela Avenida Brasil escreveu uma cena de um casamento. A noiva, paraibana, recebeu como convidados seus parentes, que moram no Estado nordestino. Os parentes, incluindo um médico cardiologista, chegaram ao Rio de Janeiro de ônibus. 

Oras, um médico que faça pelo menos dois plantões por semana ganha, em média, R$ 5 mil por mês. Recurso suficiente para comprar uma passagem de avião entre João Pessoa e o Rio de Janeiro.


Meu caro João Emanuel, os nordestinos não andam mais de ônibus. Graças ao desenvolvimento econômico da Região e às promoções das passagens aéreas, descobrimos a maravilha que é andar de avião. Rápido e, dependendo da companhia que você escolher, confortável. Mesmo que o banco não recline e o espaço entre as cadeiras seja mínimo, passar três horas no aperto ainda é melhor que passar três dias sacolejando dentro de um ônibus. E pode até sair mais barato.

Não quero com esse texto defender os coitadinhos dos nordestinos. Ainda falta muito para sermos uma região desenvolvida, com bons índices de escolaridade, renda, acesso à saúde, saneamento e até água. Milhões de pessoas ainda vivem em estado miserável sem ter uma gota d’água nas torneiras. Isso, graças à falta de empenho político dos governantes que, entra mandato, sai mandato, não são capazes de elaborar uma política pública capaz de amenizar os efeitos da seca. Oras, se a iniciativa privada conseguiu fazer isso para manter as plantações da fruticultura do Vale do São Francisco, por que o governo não consegue? Bem, mas isso é assunto para outro texto.

Mas é um alerta para o “Sul Maravilha” de que estamos mais perto de vocês do que vocês pensam. 

Um comentário:

Olha o que os finos e fofos disseram