Certa vez, eu estava no metrô de São Paulo e resolvi pedir
informação a uma senhora sobre qual estação eu deveria descer para ficar mais
próxima do meu destino. Percebendo o meu sotaque carregado de uma legítima
pernambucana, após me responder, ela me disse, em tom de lamentação: “É, vocês nordestinos
vêm para cá porque lá na terra de vocês não tem trabalho...”.
Prontamente,
respondi: “Não, eu vim para cá assistir um megashow internacional, cujo
ingresso custou meio salário mínimo, estou hospedada em um hotel e fiquei mais
dois dias para fazer compras e passear. Eu não preciso arrumar emprego em São
Paulo. Estou aqui gastando dinheiro, que ganhei trabalhando na minha terra.”
O fora que dei na criatura paulistana pode ter sido
exagerado, mas mostra a força econômica que o Nordeste tem. Somos a região que
mais cresce no País e meu Estado, Pernambuco, tem crescimento comparável à
China. Nada mais normal que seus moradores tenham condições de conquistar um
bom emprego e, dessa forma, de dar ao luxo de gastar uma pequena fortuna
(ainda para muitos pais de família) só para ver uma banda tocar ao vivo.
E foi justamente aí que João Emanuel Carneiro errou feio. O autor
da novela Avenida Brasil escreveu uma cena de um casamento. A noiva, paraibana,
recebeu como convidados seus parentes, que moram no Estado nordestino. Os parentes,
incluindo um médico cardiologista, chegaram ao Rio de Janeiro de ônibus.
Oras,
um médico que faça pelo menos dois plantões por semana ganha, em média, R$ 5 mil
por mês. Recurso suficiente para comprar uma passagem de avião entre João
Pessoa e o Rio de Janeiro.
Meu caro João Emanuel, os nordestinos não andam mais de
ônibus. Graças ao desenvolvimento econômico da Região e às promoções das
passagens aéreas, descobrimos a maravilha que é andar de avião. Rápido e,
dependendo da companhia que você escolher, confortável. Mesmo que o banco não
recline e o espaço entre as cadeiras seja mínimo, passar três horas no aperto
ainda é melhor que passar três dias sacolejando dentro de um ônibus. E pode até
sair mais barato.
Não quero com esse texto defender os coitadinhos dos
nordestinos. Ainda falta muito para sermos uma região desenvolvida, com bons índices
de escolaridade, renda, acesso à saúde, saneamento e até água. Milhões de
pessoas ainda vivem em estado miserável sem ter uma gota d’água nas torneiras. Isso,
graças à falta de empenho político dos governantes que, entra mandato, sai
mandato, não são capazes de elaborar uma política pública capaz de amenizar os
efeitos da seca. Oras, se a iniciativa privada conseguiu fazer isso para manter
as plantações da fruticultura do Vale do São Francisco, por que o governo não
consegue? Bem, mas isso é assunto para outro texto.
Mas é um alerta para o “Sul Maravilha” de que estamos mais
perto de vocês do que vocês pensam.