Hoje passei por um outdoor que anunciava um show de Jorge Vercilo e Maria Gadú. Depois de escutar a "cantora (cantora? a mulher é mais homem que meu namorado, o pai dele e meu pai juntos!) revelação da MPB em 2009", sinto que só conseguirei ser feliz se um dia entender o que quer dizer "timbalaiê quando vejo o sol beijando o mar, timbalaiê não sei o que não sei-quê-lá." E o que falar de Jorginho? Bem, se ele é o pirata de Djavan e todo pirata é mais barato, o show vai custar R$ 2, como todo DVD pirata?
A verdade é que sempre que vejo ou escuto algo sobre Jorge Vercilo me lembro de um e-mail que recebi há mais de dois anos. É longo, mas é divertido.
O Homem que sabia djavanês
Eu tinha chegado fazia pouco ao Rio de Janeiro e estava literalmente na miséria. Vivia fugindo de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar dinheiro. Até que um dia, lendo 'O Globo', deparei com este anúncio: 'Precisa-se de um professor de djavanês'. A audição das músicas de Djavan sempre provocou em mim puro mal-estar físico. Mas, enfim, precisava de grana e decidi fazer o possível para vencê-lo.
Naquela semana, fui a todos os barzinhos com música ao vivo da cidade. Perdi a conta de quantas vezes escutei 'e o meu jardim da vida ressecou, morreu' ou 'amar é um deserto e seus temores'. Foram sete dias de tortura; contudo, saí deles com o djavanês na ponta da língua. Em vez de mandar meu currículo, achei que conviria visitar o endereço indicado no anúncio. Era um tríplex de cobertura, decorado com muito dinheiro e mau gosto ainda maior, num dos bairros mais caros do Rio.
Apresentei-me como professor de djavanês e, após ser submetido a inquérito pelos empregados, fui levado à presença do patrão, o doutor Albernaz. Ele me recebeu com um sorriso visivelmente irônico. 'Então o senhor é professor de djavanês, hein?' “Sim, sou”. Formado em djavanês e com mestrado em beregüê. Tive dez com louvor na minha tese sobre a influência de Carlinhos Brown na obra de James Joyce”. A tese, obviamente, não existia, mas o doutor Albernaz pareceu acreditar na conversa. 'Então, só o senhor pode me ajudar. Ouça isto, por favor' - e pôs nas minhas mãos uma coletânea do Djavan em CD.
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Ao notar minha cara de ponto de interrogação, ele contou sua história. 'Pouco antes de morrer, meu pai me entregou esse CD e disse: ''Filho, tenho certeza de que Djavan canta coisas muito profundas, mas ouvi suas músicas durante anos e nunca consegui entender 'COISA ALGUMA'. Só podem ser segredos iniciáticos transmitidos da maneira mais hermética possível. Descubra o significado e você obterá a chave da felicidade'.' O doutor Albernaz abriu o encarte do CD e me mostrou uma das letras: ''Obi, obi, obá. Que nem zen, czar. Shalom Jerusalém, z'oiseau'.' O que é isso?.
Eu estava tenso com a pergunta do doutor Albernaz. Tantas músicas do Djavan e o velho tinha de querer saber o que significava a letra de 'Obi'? Desgraçado. Se ainda fosse aquela do 'o amor que é azulzinho', mas era tarde. Ele tinha os olhos fixos em mim: queria respostas. Todo o sucesso da minha empreitada dependia de uma explicação convincente e imediata.
De repente, uma idéia. Começo: 'Veja bem. 'Obi' é certamente uma referência a Obi-Wan Kenobi, o sábio de 'Guerra nas Estrelas' interpretado por sir Alec Guinness. 'Obá', por sua vez, remete a 'Djobi Djobá', sucesso dos Gipsy Kings. Djavan buscou contrastar o lado luminoso e britânico da força com os mistérios nômades da alma cigana. A mesma tensão dialética pode ser verificada no verso subseqüente, 'que nem zen, czar': a contemplação espiritual dos monges budistas e o poder absoluto dos czares. Perceba como tese e antítese se resolvem lindamente na síntese do verso seguinte: 'shalom Jerusalém' é a paz do espírito na divina cidade... É ela que faz a alma se elevar aos céus, como um pássaro ('z'oiseau')'.
Os olhos do doutor Albernaz se arregalaram enquanto eu falava. Dois segundos depois de eu terminar, ele gritou: 'Que maravilha! Sabia que havia algo de muito profundo nessa letra! O senhor é um gênio da hermenêutica, um mestre do djavanês!'. Passei a tarde inventando explicações para todas as outras letras do CD - Açaí guardiã..., Kremlin-Berlim-pra-não-dizer-Tel-Aviv..., índio cara-pálida cara de índio... Citei Joyce, Pound, Oswald, Glauber, Zé Celso, Hélio Oiticica e Odair Cabeça de Poeta: name-dropping é comigo mesmo.
Daí por diante, minha ascensão social estava garantida. Eu era o único intelectual do país capaz de traduzir a transcendência da linguagem de Djavan. Tinha prestígio acadêmico e subsídio do Ministério da Cultura; gostosíssimas estudantes de lingüística rasgavam as roupas e se atiravam aos meus pés. Mas troquei tudo por um violão, sandálias de couro cru e um penteado novo. Mudei até meu nome graças ao djavanês. Hoje me chamo Jorge Vercilo e sei que 'nada vai me fazer desistir do amor."
Êpa! Peraê! A Gadu pode ser concorrente, mas eu me garanto! E quanto a Jorginho, ele é, digamos, como "oluarestreladomarosoleodomquiçaumdiaafúriadessefront viralapidaosonhoatégerarosomcomoquerercaetanearoque hádebom".
ResponderExcluirEntendeu?
Então vou ouvir meu bom e pobre rock and roll!
Beijo!
Hauaauhauhauhaua... Adorei!!!
ResponderExcluirTambém acho que ela é mais homem do que Samuel e olhe que meu marido é um cafuçu do C$#@¨*&%!! Mas ela se garante :)
Não gosto dela, não consigo, é POP demais...
Lady Ga Ga que se cuide... :)
Beijos Mariiiiiiiii!